Conceituação de Humano e as Variáveis Históricas - Yan Klovinsk

Conceituação de Humano e as Variáveis Históricas

família caminhando ao por do sol

Entender ou conceituar o humano é tarefa difícil, porque a definição dependerá do contexto social, econômico e cultural de uma determinada sociedade. Além disso, qualquer definição a priori do que seja “ser humano” será incompleta, porque o homem se supera a todo 

momento. O conceito é uma abstração, é estático, um rótulo apenas, enquanto o ser humano é dinâmico, redefinindo-se constantemente em função do meio em que vive, nas adversidades e nas suas conquistas.

Quando entendemos a sociedade entendemos o “ser humano” e vice-versa também, ambos influenciando-se mutuamente e em constante mutação, por isso a dificuldade de se conceituar “ser humano”.

Entretanto, como é da condição humana conceituar “rotular” as coisas, cada sociedade, em diversas épocas definiu o que acreditava ser a definição mais apropriada de “ser humano”, quando a própria Filosofia – mãe da ciência – não conseguiu definir o homem nem mesmo a razão de sua existência.

Um Ermitão que morasse na lua seria facilmente definido, mas ele não conseguiria ter autoconsciência, porque está isolado da sociedade, encontra-se afastado dos homens entre os homens, condição necessária para o “Conhece-te a ti mesmo” de Sócrates. Esse Ermitão pode ser definido porque não existe totalidade.
       
Para a visão Capitalista o home é apenas um mero consumidor. Não existe outra definição possível já que o que caracteriza o Capitalismo é o consumismo.
       
Segundo M. Heidegger, o homem é um agente de mudanças que se realiza na sua existência, sempre se reinventando como possibilidade, mas indefinível porque desconhecemos as razões ou motivos da nossa existência:

“O ser não somente não pode ser definido, como também nunca se deixa determinar em seu sentido por outra coisa nem como outra coisa. O ser só pode ser determinado a partir do seu sentido como ele mesmo”. Ou seja, o ser é autônomo, independente, e indefinível”. Heidegger (2005).

No pensamento Grego o homem é visto como o elo fundamental que unifica todas as outras coisas. Platão afirmava que o homem é composto por uma “alma espiritual” e um “corpo material”. O primeiro pertence ao mundo das ideias e o segundo ao mundo concreto. Para esse Dualismo Grego sobre o homem, o espírito é superior ao corpo.
       
Na visão do Cristianismo a visão de homem fundamenta-se na revelação – ato pelo qual Deus faz saber aos homens os seus mistérios, a sua vontade. Segundo Santo Agostinho o livre-arbítrio é uma ilusão, porque o homem é livre na exata medida em que se submete ao chamado divino quando participa da sua salvação. Nesta visão, percebe-se que a definição de homem só é possível se estiver atrelada com a revelação divina.

Neste mesmo período Tomás de Aquino, contraria o pensamento dualista dos Gregos, afirmando que “alma e corpo” não são duas substâncias separadas, mas dois princípios que formam o único e mesmo homem. Neste contexto, “bom e mal” também permeiam a vida dos homens como princípios possíveis que os definem. A eliminação de um desses possíveis, implicaria na errada ou mesmo parcial definição de “ser humano”.
       
O período entre os séculos 4 e 14, o pensamento dominante era o teocrático, o homem encontrava-se no centro do universo, fruto da fé de que Deus olhava por ele, cuidava dele, que Deus lhe reservava o melhor da vida.
       
A idade moderna é caracterizada por grandes transformações, revoluções e mudanças radicas na forma de pensar do homem e sobre o homem. Entre os grandes acontecimentos desse período pode-se citar: as Grandes Navegações, o Renascimento, a Reforma Religiosa, o Absolutismo, o Iluminismo e a Revolução Francesa. É nesta época, frente a um novo modo de pensar que o homem passa a questionar sobre si “o ser do homem” e “qual o sentido de sua existência?”, tornando-se o centro de todas as questões – Antropocentrismo – que é uma concepção que considera que a humanidade deve permanecer no centro do entendimento dos humanos, isto é, o universo deve ser avaliado de acordo com a sua relação com o Homem. É normal se pensar na ideia de "o Homem no centro das atenções".    

Outro problema para se definir o “ser humano” está em que o homem se apoiou na sua capacidade racional como sustentáculo a realização da sua “Autonomia”, mas ela não se consumou, a pretensa “Autonomia” não realizou a existência humana nem mesmo resolveu os problemas da humanidade. Situação agravada pelo avanço tecnológico que, apesar de trazer certo conforto às pessoas, trouxe também um apego neurótico aos bens materiais e a supervalorização do “ter” em detrimento do “ser”. Com isso estabeleceu-se uma nova crise para o homem, porque a satisfação material plena “o ter” não conseguiu dar ou criar sentido à vida, a nossa existência.
       
Por tradição histórica o espirito no homem constituía sua essência, mas no século 19, o Materialismo contrariava esta visão, por considerar o homem uma realidade apenas material.
       
Para Augusto Comte, o valor está no conhecimento objetivo da realidade, ou seja, só vale aquilo que se pode experimentar. No evolucionismo de Darwin ocorre uma nova visão de homem quando este afirma que “a evolução é fruto da seleção natural. Friedrich Nietzsche acompanha essa linha de raciocínio.
       
Marx e Engles afirmam que só existe a realidade material.
       
O filósofo Sören Kierkegaard, precursor do existencialismo, revela que o que realmente importa é a existência, o homem individual e concreto na totalidade de sua existência pessoal, singular, autônoma, sua liberdade e responsabilidade.

Diante do exposto, conclui-se que a definição de “ser humano” ainda se encontra incompleta. O homem deve ser analisado dentro da realidade em que vive, porque o contexto social influencia nesta análise. E também, tudo o que é considerado como verdade em uma determinada época é colocada à prova em outra. Parece-nos que essa definição está longe de acontecer, porque sendo a sociedade eminentemente Capitalista – um sistema que define o homem como mero consumir – impede o homem de descobrir quem é, e de olhar para dentro de si, pois está preocupado somente em “ter” e não em “ser”. Essa psicose do “ter” tudo a qualquer custo tem fragmentado o “ser” do homem, despersonalizando-o. Assim, a questão que se coloca para o novo milênio é: Como resgatar o “ser” do homem, como revelar sua humanidade?

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